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Coletividade em conflito
25.04.2014
Encontro de formação no CCSP conversou sobre uma das lentes da 31ª bienal

“O conflito está dentro de cada pessoa e contrapõe o próprio diálogo”. Com essa declaração, Leonardo Matsuhei, palestrante do Educativo Bienal, iniciou o 2º Encontro de Formação em Arte Contemporânea no Centro Cultural São Paulo, que tinha como tema Coletividade em conflito. O Educativo Bienal, em parceria com o CCSP, promove essa série de encontros com a ideia de conversar sobre as lentes e artistas da 31ª Bienal, que será inaugurada no segundo semestre no Pavilhão da Bienal.

Além do tema do encontro, o conflito também é umas das lentes abordadas pela Caixa de Ferramentas, material educativo da 31ª bienal. De acordo com Matsuhei, a equipe curatorial dessa mostra, formada por Charles Esche, Galit Eilat, Nuria Enguita Mayo, Pablo Lafuente e Oren Sagiv, pensa o conflito como criador, algo que está no centro da arte contemporânea.

“Eu acho o conflito potente, acho que deve ter tensões, vetores opostos. Não acredito em um lugar onde só tenha convergência, sobretudo com a arte que lida com a subjetividade. Cada um tem um universo que vai se conectando não tem como todo mundo concordar”, ressaltou a atriz e professora Milena Siqueira, que estava presente na formação.

Para ilustrar o encontro e ativar a conversa, Matsuhei apresentou alguns trabalhos de artistas que participam da 31ª bienal, como a obra El Dorado, da artista nascida na Bósnia Danica Dakic, no qual o conflito se apresenta no próprio trabalho: uma foto que mostra um painel com a imagem de um lugar bucólico colocado propositalmente em uma paisagem urbana contrastante. De frente para esse mural, um grupo de diferentes jovens, que quase não interagem, vestem roupas e se comportam de uma maneira que não condiz com a imagem do painel.

Outro trabalho exposto pelo palestrante foi o vídeo The Incidental Insurgents: The Part about The Bandits (extract) do duo Basel Abbas & Ruanne Abou-Rahme, que aborda o conflito na vida de dois jovens palestinos “fora da lei”.
“Com um governo autoritário, esses jovens parecem se auto afirmar no vídeo, pois a condição de vida na Palestina pressupõe que você viva fora da lei. É como um país inteiro fora da lei, em conflito, pois as condições são difíceis”, completou Matsuhei.

Após a conversa sobre o trabalho de Basel Abbas & Ruanne Abou-Rahme, o público levantou a questão do terrorismo poético, assunto de um dos capítulos do livro Caos, do historiador, escritor e pesquisador, Hakim Bey. Algumas questões do terrorismo poético foram ressaltadas pelo fato dele ser uma ação ou uma flash mob*, que pode transformar alguns momentos da vida de uma pessoa em conflito. De acordo com um trecho do próprio livro “essa pessoa perceberá que, por alguns momentos, acreditou em algo extraordinário e talvez se sinta motivada a procurar um modo mais interessante de existência.”

Ao falar sobre o terrorismo poético e flash mob, o palestrante mostrou outro exemplo com o trabalho do coletivo argentino Etcetera que também está na 31ª bienal. Com suas performances políticas que exploram o “errorismo internacional”, espécie de estilo de vida militante, o coletivo acredita na ideia do erro como ato libertador, como potência para outras coisas.

“O erro também traz muitos conflitos, pois tenciona para um lado quando parece que tudo está para o outro”, acrescentou Matsuhei.

Para fechar e vivenciar o assunto na prática, o palestrante propôs aos participantes a ação poética Pintura no campo “extendido”, inspirada na obra do artista Martim Groisman. Na ação, os integrantes participaram de uma espécie de cabo de guerra coletivo que, ao invés de ser feito de um material resistente, era de barbante. Bem no centro desse cabo, no ponto de tensão, um saco com tinta, era a ferramenta que o grupo precisava usar para cumprir a missão dada pelo palestrante:  pintar uma imagem coletivamente. Algumas perguntas surgiram durante essa ação: Como é o movimento dos corpos? Como negociar interesses diferentes para que o cabo não se rompa? Como se locomover? Como o conflito aparece nessa ação?  

“Percebi que só de estarmos juntos já estamos em conflito. Na ação só de estarmos em posições diferentes, na nossa organização, já aparecia o conflito. As ideias, os interesses, as idades, também geram conflitos. Depois dessa palestra pensei como eu mesma estou em conflito, pois acabei de me aposentar e penso como posso recomeçar? É um conflito interno, íntimo, de querer e de nem sempre conseguir. Mas o conflito é pulsante, pois de alguma forma nos tira da mesmice e nos leva a um novo lugar”, disse a professora e estudante Maria Angela Farah.

*Flash Mobs são aglomerações instantâneas de pessoas em certo lugar para realizar determinada ação inusitada previamente combinada, estas se dispersando tão rapidamente quanto se reuniram. A expressão geralmente se aplica a reuniões organizadas através de e-mails ou meios de comunicação social.

Fotos: Sattva Horaci
Texto: Vivian Lobato

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