2014
Tiago Borges e Yonamine
Um óvni é algo que vem do futuro – futuro que não nos pertence, ao qual talvez nunca cheguemos, mas que nos mostra um lugar onde poderíamos estar, instrumentos que poderíamos utilizar, um tempo em que tudo será diferente. É um objeto que não projetamos mas com o qual talvez sonhemos, que faz presentes um tempo e um lugar que não são nossos e um conjunto de itens, informações e ferramentas que não reconhecemos plenamente. Poderia funcionar, porém, como uma imagem que reflete sobre o mundo que consideramos nosso e torna aparente seu tamanho, suas limitações e suas possibilidades; que o expande e pode até salvá-lo da (auto)destruição.
AfroUFO, de Tiago Borges e Yonamine, vem de um futuro negro, do qual não sabemos muito. Negros, “como a cor do cabelo de meu amor verdadeiro”, são seus motores, que deixam um rastro de poluição por onde passam. Negras são as pessoas dentro dele, em suas diferentes tonalidades. Esta é a negritude de uma história colonial comum, a de Angola, de onde procedem os artistas e cuja história colonial é compartilhada pelo lugar onde a nave pousou, o Brasil. Também é a negritude da falta de eletricidade que afeta Luanda mais de uma década após o fim de uma guerra civil que durou 26 anos.
Mas o AfroUFO também é uma fonte de luz. Suas paredes enquadram uma nave mítica que abriga simbolicamente tudo o que a África já produziu: imagens fixas e em movimento, músicas, sons, palavras... Com seu conteúdo, é uma bomba-relógio que, após a aterrissagem, pode explodir e contaminar nosso mundo com o que foi suprimido durante quinhentos anos de esquecimento e exploração. Quando isso acontecer, poderemos nos tornar um novo tipo de criatura e encontrar um novo modo de habitar uma Terra que não será mais aquela que conhecemos. – PL