2014
Lázaro Saavedra
Na 3ª Bienal de Havana, em 1989, Lázaro Saavedra foi incluído com outros artistas cubanos de sua geração na seção A tradição do humor, em um movimento curatorial que tem sido lido como um intento de apagar o potencial crítico de sua obra mediante uma categoria, a do humor, que tem uma relação difícil com a política.
Talvez o título dessa exposição tenha sido uma imposição do regime castrista, preocupado com o assédio exterior e com as possíveis críticas internas. Mas a identificação do humor como estratégia no trabalho de Saavedra não era um erro, e sim um modo de definir uma outra posição crítica, complexa, intervindo desde o seu interior. Essa posição, mantida por ele durante mais de três décadas de trabalho, apresenta um modelo de como a prática artística pode responder ao contexto sem fugir dele, propondo análise, releituras e desvios.
A formação de opinião e a construção do imaginário social sempre são para ele objetos de estudo e problematização, como em uma obra de 1987, na qual Saavedra rasga parte de um retrato de Marx para mostrar que o autor do Manifesto comunista era “de carne e osso”, tornando visíveis suas veias e músculos, como se o papel rasgado fosse uma pele. Ou em Detector de ideologias (1989-2010), um pequeno aparelho capaz de detectar desvios ideológicos nas obras de arte: sem problema, problemática, contrarrevolucionária, diversionista. Mais recentemente, o artista desenvolveu Software cubano (2012) um jogo de “sim” e “não” que evidencia as consequências das escolhas político-ideológicas que regem a vida cubana atualmente, tensionando as relações entre vontade e realidade.
Para a 31ª Bienal, o artista foi convidado a realizar uma intervenção em parede que retomasse algumas dessas obras anteriores, articulando-as em um novo contexto e refletindo, através de sua própria história como artista, sobre as possibilidades críticas da arte no presente. – LP/PL