2011-2012 / 2010 / 2014
Nilbar Güres
Aparelhos e tecnologias, hábitos e crenças – e o modo como eles tanto determinam quanto possibilitam comportamentos e maneiras de atuação – compõem a linha que atravessa os três corpos de trabalho com os quais Nilbar Güres participa da 31ª Bienal. Parcialmente exposta, a série fotográfica TrabZONE apresenta diversas situações ligeiramente cômicas que a artista em parte recupera de suas memórias de infância, em parte imagina. Suas fotos evidenciam os códigos repressivos ainda em vigor no povoado de Trabzon, no Curdistão turco (Anatólia Oriental), onde vive parte de sua família estendida. Ao mesmo tempo, com a exposição desses códigos, ela possibilita um exercício de questionamento de expectativas tanto para os retratados quanto para os espectadores – a quem o conteúdo das situações encenadas se revela, na maioria das vezes, mais opaco (por ser extravagante ou inverossímil) que legível.
Esse trabalho é acompanhado por um novo conjunto de esculturas, algumas delas realizadas com base nas colagens de sua Black Series [Série negra]. Nelas, expondo a “delicadeza feminina” do bordado e cobrindo o tecido com uma espécie de iconografia onírica, Güres propõe um jogo de ocultamentos e revelações no qual a variedade e a vitalidade infinitas do erotismo constituem a melhor ferramenta crítica para combater os preconceitos e crimes cometidos contra a liberdade sexual.
Aqui, como em TrabZONE e Open Phone Booth [pp. 130-131], o resultado desse olhar sobre mecanismos de controle e repressão é libertador, e as imagens e configurações resultantes mostram maneiras de ver, pensar e fazer surpreendentes e, por isso, também libertadoras. – SGN