2014
Anna Boghiguian
Questões relativas à qualidade da existência e a desigualdade de acesso aos recursos são a preocupação principal dos trabalhos atuais de Anna Boghiguian, uma observadora nômade cuja obra resulta em informes poéticos sobre a situação do mundo. Para sua nova instalação, ela realizou pequenos desenhos e pinturas tanto em seu ateliê no Cairo como nas viagens a Índia, Europa e Brasil. Boghiguian trabalhou em pequenos cafés no centro das cidades e ao longo dos rios Nilo, Ganges e Amazonas, registrando suas impressões sobre o entorno. Ao lado desses trabalhos, a artista instala colmeias e favos de mel para representar as formas de relações sociais humanas que ela contemplou no percurso. As abelhas têm uma estrutura social ao mesmo tempo monarquista e democrática, já que as próprias abelhas operárias colaboram para servir a rainha. Elas refletem as mudanças que o Egito experimentou nos últimos anos – antes, durante e depois da revolução, passando da monarquia para uma forma disfarçada de democracia que ainda permanece autoritária. A desigualdade entre governantes e súditos e a exploração dos tesouros naturais do país são sugeridos na combinação entre o desenho e os favos de mel.
Ao longo dos anos, Anna Boghiguian desenvolveu desenhos, colagens, imagens misturadas com texto e objetos achados ou esculturas, como modo de registrar suas viagens. Seu trabalho pode ser lido em parte como informes visuais, em parte como um diário refletindo nossos tempos confusos. Entrelaçando literatura e textos religiosos, mitologia e poesia, além da análise política de seu ambiente, a artista mantém uma relação de conflito com as megacidades, e capta sua essência complexa no tráfego nas ruas, nas pessoas no mercado, em trens indianos ou em resquícios de conflito e desabamentos. – GE