2009 / 2012-2014
Johanna Calle
Os desenhos da série Imponderables [Imponderáveis], uma das obras que Johanna Calle expõe na Bienal, são quadrículas desarticuladas e/ou interrompidas que remetem a diversas estruturas comuns em nosso entorno, como os traçados urbanos ou a composição das grades de uma casa. Mas a base material desses desenhos é outra: a artista reproduz em arame a organização reticular de alguns livros de contabilidade e a estende sobre cartão. Essa simples descontextualização faz com que a trama, espraiada, multiplique suas ressonâncias icônicas e simbólicas, mas conserve o fundo literal: distorcida a quadrícula contábil, são distorcidos também os números que continha e, por extensão metafórica, a ordem econômica que tanto o pequeno comerciante quanto as grandes multinacionais se empenham para controlar.
Perímetros, a outra série em exposição, faz com que se cruzem duas ordens reciprocamente estranhas: sobre o papel utilizado em registros de cartórios colombianos do século 20, nos quais constam dados de propriedade de lotes rurais, Calle desenha árvores de diversas espécies que atravessam as colunas divisórias dos documentos, tornando irrelevante seu afã divisor. Por meio da desorganização que a artista promove, a natureza reclama seus direitos sobre uma terra desgastada pela concentração de capital e que levou a maioria dos colombianos a perder os pequenos lotes nos quais cultivavam os alimentos necessários para sua sobrevivência.
Toda a obra de Calle tem sua matriz no desenho, considerado não estritamente uma técnica, mas como universo conceitual. Se ela o aproxima de outras formas de escrita, como a verbal e a musical, é para questionar a linguagem enquanto sistema e, particularmente, os poderes que operam nela como substratos. No entrelaçamento de semântica, morfologia e sintaxe, própria de toda língua, a artista trabalha interrompendo regras e fazendo falar signos que o poder mantinha em silêncio. – SGN