2011-2014
Agnieszka Piksa
Combinando imagens de uma publicação sobre arte popular polonesa com ilustrações de um livro de divulgação científica dos anos 1970 sobre as origens do universo, a colagem Justice for Aliens [Justiça para aliens] – uma das muitas histórias que serão publicadas como parte de um pequeno fanzine distribuído gratuitamente durante a 31ª Bienal – sugere que a imaginação científica moderna pode não estar tão distante de antigos rituais animistas.
Afinal, tanto os ícones cerimoniais como os diagramas sobre galáxias longínquas podem ser vistos como tentativas de representar o desconhecido; imagens astronômicas difusas em preto e branco que oferecem pistas não menos incompreensíveis que padrões tribais desenhados na calçada. Embasando essa paródia de quadrinhos de ficção científica, porém, está a sombria percepção de que, enquanto as culturas pré-modernas consideravam a alteridade com temor reverente, o aviltamento dos extraterrestres na ficção científica reflete – e ao mesmo tempo alimenta – a angústia que as sociedades modernas projetam de forma sistemática sobre o outro, colonial, étnico ou sexual – um medo utilizado com frequência para justificar a submissão do outro. Clamar “justiça para aliens” pode não ser uma reivindicação de fato absurda, quando aliens não tão distantes têm pouquíssima chance de serem saudados “com flores e uma taça de vinho”, como pede uma das legendas, nas fronteiras fortemente policiadas de hoje.
Justice for Aliens é um episódio de um romance gráfico de 2013, Gvozden (em sérvio, “homem de ferro”), resultado da colaboração de dois anos entre a artista polonesa Agnieszka Piksa e o roteirista sérvio Vladimir Palibrk. Apesar das conotações hiperbólicas de seu nome, Gvozden é apresentado como um “homem comum”, anti-herói cujos inimigos não são supervilões, mas formas igualmente corruptas de representação: da publicidade à linguagem corporativa e dos estereótipos sexuais à violência nos filmes.
Às vezes expressionistas, outras quase abstratos, os desenhos de Piksa – a maioria em preto e branco – recusam-se a pautar-se por regras de estilo. Como as colagens e as palavras-diagramas conceituais da artista, eles são experiências de análise visual da linguagem, e procuram dar uma forma gráfica às associações, contradições e premissas implícitas na comunicação cotidiana, aparentemente inócua. – HV