2014 Sheela Gowda
Borracha e ferro, linha, agulhas e pigmento, incenso e cinzas, esterco de gado, para-choques de automóveis e cabelo – materiais do dia a dia figuram destacadamente na prática escultural de Sheela Gowda. Em suas mãos, esses elementos são entretecidos para criar composições tridimensionais em grande escala, com linhas e cores que envolvem o espaço e o espectador. Às vezes, as linhas ziguezagueiam, como nas cordas tecidas de cabelo ou linha. Outras vezes, são rígidas e cortantes, como nos encanamentos com altofalantes construídos em uma grelha que entrecruza o espaço expositivo, ou ainda nos membros esguios, altos, feitos de mobília reciclada. A um olhar mais atento, porém, as linhas de Gowda revelam ser mais que meras formas abstratas: cada uma de suas instalações está preocupada tanto com as qualidades dos materiais específicos quanto com os trabalhos associados a eles – como, por quem e para quem são manuseados e postos em uso na vida diária.
Em Those of Whom [Aqueles dos quais], Gowda jogou com a elasticidade da borracha natural contra a rigidez do ferro reciclado de móveis e esquadrias, como se estendesse uma nova pele sobre os esqueletos remanescentes. Ambos os materiais são também fruto de microeconomias elásticas, que se relacionam com a sua própria história e também com a história econômica e política do país.
A extração de látex da seringueira conduziu a prosperidade econômica do Brasil no fim do século 19, com efeitos desastrosos para a floresta amazônica e para suas populações indígenas. Com a exportação de sementes de seringueira para o sul da Ásia, no início dos anos 1900, e a comercialização de borracha sintética, nos anos 1960, porém, os preços da borracha desabaram. Os produtores locais viram-se obrigados, assim, a explorar atividades mais lucrativas, embora quase sempre menos seguras em termos ambientais. Para essa instalação, Gowda trabalhou com cooperativas de seringueiros do estado do Acre, onde a extração de borracha contribui para evitar desmatamentos adicionais da Amazônia. Recuperadas da selva urbana que é São Paulo, as estruturas de ferro são igualmente coletadas nos terrenos de demolição por empresas de reciclagem de lixo urbano e colocadas novamente em circulação. – HV