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País das Maravilhas
09.09.2014

2013
Halİl Altindere

Durante as duas últimas décadas, o trabalho de Halil Altındere diversas vezes se chocou com a realidade política e social turca, em rápida transformação. Em Dancing with Taboos [Dançando com tabus], um projeto realizado para a 5ª Bienal de Istambul, 1997, Altındere caracterizou essa relação problemática com seu país – reproduções em grande escala de sua carteira de identidade eram exibidas em sequência, e a cada foto o rosto do artista tornava-se mais oculto. Em outro lugar, um documento de identidade mostrando o artista com o rosto encoberto pelas mãos era apresentado próximo a uma cédula de dinheiro ampliada, com o primeiro presidente da Turquia, Kemal Atatürk, aparentemente imitando o gesto de vergonha de Altındere e aliando-se, assim, ao artista na rejeição de uma identidade nacional condicionada à aniquilação de sua cultura e etnia curda.

Na última Bienal de Istambul, em 2013, o jogo de esconde-esconde sugerido nesse trabalho inicial se materializa ao pé da letra nas imagens de jovens ciganos correndo da polícia em Wonderland [País das maravilhas], um vídeo que também pode ser visto na 31ª Bienal. Apresentando o grupo local de hip-hop Tahribad-ı İsyan, a obra adota a linguagem visual dos vídeos de rap para denunciar furiosamente a destruição de assentamentos com séculos de existência em Sulukule, no centro de Istambul, para dar lugar a empreendimentos imobiliários de ponta. Se Dancing with taboos colocava em destaque a questão curda no momento em que o estado turco estava eliminando aldeia após aldeia no sudeste do país, em Wonderland Altındere captou a inquietação provocada pela excessiva gentrificação de Istambul – uma sensação de descontentamento que ganharia ímpeto nos protestos do parque Gezi da primavera de 2013.

Apoiada por esses dois gestos corajosos de dissidência política, a prática de Altındere pode ser vista como uma investigação de formas de governo – sancionadas pelo Estado, pelo sistema de arte ou pelos costumes sociais – e de linguagens vernaculares de resistência a esse próprio exercício de poder. Suas estratégias artísticas são bastante jocosas: sua ironia conceitual, sempre cáustica e irreverente, é exemplificada por sua adaptação da famosa máxima de Emma Goldman em If I can’t dance it is not my revolution (2010), moldada pelo artista como um colar de ouro no estilo de uma bijuteria elegante, convertendo assim um marcador de identidade normativa em uma declaração de desafio. – HV

 

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